No meu consultório esta semana, um relato interessante: “Fui num médico e ele disse que tenho fibromialgia, quando saí de lé e vi a receita do medicamento, vi que era um antidepressivo. Ele só podia ter se confundido, velhinho já coitado, trocou os medicamentos”. Digo: “Mas pode ser sim, o uso de antidepressivos pra fibromialgia”. Ela: “Bem capaz, to sempre feliz, nunca eu com depressão…só pode ser engano”.
Muitas pessoas desconhecem que a dor vem sendo estudada como um dos principais sintomas da depressão e que a fibromialgia, por sua vez, tem um fundo emocional, e que para tanto, a medicação antidepressiva aliada à psicoterapia é o tratamento adequado. Situações mal resolvidas, problemas emocionais, dificuldades para lidar com adversidades podem ser o estopim para desencadear crises de dor sem causa orgânica e que causam muito sofrimento.
Pacientes com fibromialgia e outros tipos de dor crônica habitualmente beneficiam-se quando, além da atividade física e das medicações, algum tipo de psicoterapia é acrescentado ao tratamento. Lidar com uma dor crônica não é fácil, e pensamentos de desesperança, aflição e incapacidade são comuns. Muitos destes pensamentos são totalmente disfuncionais – o indivíduo não consegue afastá-los, pois eles são chamados de automáticos, ou seja, acontecem sem que tenhamos o controle num primeiro momento, e muitas vezes estes pensamentos são ampliados e colaboram para a persistência dos sintomas.
Existem vários tipos de psicoterapia, e mais recentemente a terapia cognitiva comportamental (TCC) tem sido bastante estudada em pacientes com fibromialgia.
A TCC é baseada na idéia de que a maneira com que se pensa afeta nossos sentimentos mais do que coisas externas, como pessoas e situações. Então, para que se modifiquem as emoções de uma pessoa, necessita-se alterar comportamentos e padrões de pensamento excessivamente negativistas e disfuncionais. A natureza mais ativa desta forma de terapia e seu foco em treinar habilidades de “enfrentamento”, ajudam a devolver ao paciente com fibromialgia um senso de controle quando este sente-se sobrepujado pelos seus sintomas.
O princípio da TCC é um tratamento individualizado, focando as necessidades específicas de cada paciente. Ela é mais breve do que outras terapias, pois tem um resultado mais rápido, e o tempo de duração será decidido entre o paciente e o psicoterapeuta (uma média de 16 sessões é o observado na maioria das situações).
O foco do psicólogo será principalmente em ensinar ao paciente que ele pode “desaprender” velhos hábitos de pensamento e aprender novos, que o fazem sentir-se melhor. O trabalho será sempre dividido entre o terapeuta e o paciente, sendo que o papel do profissional deverá ser de ouvir, ensinar e encorajar, e o papel do paciente será de expressar suas dúvidas, aprender e implementar o que aprendeu.
Basicamente a TCC ensina que todos têm problemas, quer você se incomode muito com eles ou não. Se o paciente fica excessivamente preocupado com um problema, ele passa então a ter dois problemas: o problema original e a reação emocional excessiva contra este problema. Quando o paciente a aceitar a presença do problema de maneira mais adequada, não só irá se sentir melhor, como também estará em uma melhor posição para fazer uso de sua inteligência, conhecimento e energia para resolver este problema. Os terapeutas da TCC irão focar não o que o paciente deve fazer, mas como fazer da melhor maneira possível.
Como o foco da TCC é educativo, “lições de casa”, que são exercícios e técnicas para “clarear” a análise dos fatos que estão acontecendo à sua volta serão muito importantes na conquista de objetivos por parte do paciente com fibromialgia.
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