A imaginação, as fantasias, jogos e brincadeiras predominam na vida das crianças, e são essenciais para seu desenvolvimento cognitivo. É a partir dessas fantasias e jogos que as crianças podem e vão se relacionando com a realidade e se apropriando dessa realidade. Nesse sentido, as crianças são expostas constantemente as mais diversas histórias de Papai Noel, Fada do Dente e agora, mais especificamente do Coelho da Páscoa.

Vivemos um momento difícil, em que para muitos a Páscoa perdeu o sentido, e até temos motivos para isso. Mas seria justo com as crianças?

As crianças também sentem isso, até porque a orientação é que não se esconda o que tem acontecido, e aí vale as mais diversas formas: “tem um bichinho”, “não podemos sair de casa para não ver o bichinho”, “temos que esperar ele ir embora”. Então a primeira parte foi cumprida, falou-se a verdade, repetidas vezes, e foi-se honesto em dizer que não se sabe responder determinadas perguntas.

Agora vamos para a segunda parte, vamos tolher a criança de viver esse momento tão fundamental para o seu desenvolvimento? De poder sonhar? De poder acreditar? De fantasiar? Que é tão importante para o seu desenvolvimento e para sua apropriação do mundo?

Penso que não, vamos manter viva na criança a Páscoa, no seu real sentido. Não precisa ter chocolate, se não for possível. Não precisa ter presente, se não for possível. Mas precisa sim, ter carinho, ter brincadeira, ter pegadas no chão para que a criança siga e encontre um “prêmio” dentro das possibilidades de cada família. Afinal, elas adoram isso. Seria uma atividade fácil e simples, pois basta papel, tesoura e lápis. Vamos fazer uma maquiagem legal? Vamos encher balões e fazer carinhas de coelho, vamos fazer um bolo legal, comer cenouras, e quem sabe, fazer amendoins para encher cascas de ovos decoradas pelas crianças….enfim, vamos usar a criatividade.

O importante não é só a fantasia, mas também o espírito, os sentimentos e intenções de ajudar ao próximo que seu filho deve manter. E é claro, como o pensamento mágico faz parte de nossa constituição, nós sempre podemos acreditar lá no fundo que o coelhinho pode vir nos visitar, e manter vivo o pensamento de que neste dia algo renasça, seja nossa gratidão pela vida e pelo renascimento dos melhores sentimentos e momentos. Pois lá na frente, a lembrança que a criança terá não será sobre a marca do chocolate que ganhou, e sim, do ritual de entrega, do abraço e dos sorrisos e carinhos compartilhados neste dia. E que assim seja sempre, não só na quarentena.

 

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