E a frase foi essa, dita por muitas crianças, quando eram trazidas por seus pais para atendimento devido a algum tipo de medo. E aí vão diversos tipos de medo: de escuro, de altura, de palhaço, de balões, de morrer, de ficar doente, de algum animal….e por aí vai.
O medo é uma das emoções básicas e pode ser entendido como algum estímulo aversivo que está relacionado com respostas de estresse, desconforto, nem sempre na mesma proporção do objeto ou situação temida.
Sentir medo é algo esperado, e até saudável, pois sentir medo também ajuda a nos proteger em situações de perigo. Todos podemos sentir medo, uns mais, outros menos. Compreendê-lo é fundamental, visto que deixar de sentir medo nem sempre é possível.
O medo pode ter várias causas, desde experiências desagradáveis que ficam registradas e são trazidas à tona cada vez que se tem um gatilho. Ou até mesmo, falas despretensiosas de adultos que para tentar ensinar dados comportamentos, acabam desenvolvendo ideias ou medos sobre aquilo, por exemplo: “O bicho vai te pegar”, “O homem do saco vai vir”, “Ali tem o bicho papão”. Como as crianças fantasiam muito, há uma tendência a distorcerem estas falas, e deste modo, fazerem registros cognitivos que ficarão marcados e acompanharão essa criança por um bom tempo.
Precisa-se pontuar que crianças com doenças crônicas por pouco socializarem apresentam mais medos, pois são mais sensíveis. Outro fator é entender que medos são comuns na infância e devem ser diferenciados dos medos patológicos, aqueles que a impedem de comer, dormir ou fazer suas atividades, dificuldades respiratórias, tonturas, irritação, comportamentos regressivos e obsessivos.
Alguns medos, no entanto, são comuns em crianças de certa idade. Exemplos: até 6 meses: medo de barulhos muito altos; 7-11 meses: medo de pessoas estranhas e de altura; 1 ano: medo de que os pais desapareçam; 2 anos: medo de médico, trovões, objetos muito grandes e criaturas imaginárias; 3-4 anos: medo de palhaços e outras pessoas fantasiadas, escuro, insetos, monstros e de ficar sozinho; 5 anos: medos mais concretos, como de ladrões, de cachorro, de perder os pais ou de se machucar; 7 anos: medo de fantasmas, tempestades, dormir sozinho ou de que algo ruim aconteça com seus pais. Esses medos infantis são os mais comuns nos primeiros anos de vida. Por isso, não precisa se preocupar: ajudar seu filho a superá-los faz parte do crescimento.
Os pais são fundamentais nesta fase. É utópico dizer que o medo vai deixar de existir, o que acontece é que iremos psicoeducar as crianças sobre seus medos, fazendo-as entender que o medo é um sentimento desagradável, mas que pode ser entendido e sentido. A partir do momento que se aceita isso, a flexibilização cognitiva fica mais fácil de acontecer, ou seja, entender o medo, aceitá-lo e conseguir lidar com ele de uma forma mais saudável. Os pais são fundamentais neste processo, para acolher, não julgar, encontrar formas de validar este sentimento, estar presente e passar segurança para seus filhos. Incentivar a criança a falar sobre seu medo é importante, pois, a velha ideia de não falar para não estimular não procede, é falando sobre o medo que poderemos entendê-lo e enfrentá-lo. O enfrentamento está relacionado a aceitá-lo, mas também não é válido forçar a criança a se aproximar da situação ou evento temido. Passe segurança, e faça a criança acreditar que pode contar contigo quando precisar de você.
Na dúvida, procure um profissional para te auxiliar.