O tema esta em alta, a procura no consultório aumenta com pais trazendo dúvidas as mais diversas sobre: “Quando minha filha pode usar sutiã?”, “Posso comprar um batom pra ela?”, “E se ela quiser se maquiar?”.
Ao mesmo tempo que abominamos os crimes sexuais contra as crianças, aplaude-se a erotização infantil promovida pela mídia. Bastante contraditório! No entanto, cada vez se observa mais meninas com pouca idade, as quais já possuem kits de maquiagem, pintam unhas de vermelho ou cores da moda, usam sapatos com pequenos saltos, e o pior, todos elogiam e consideram o máximo…e quem é contrário aos elogios é visto como careta, ouvindo comentários do tipo: ”Qual o problema? Não tem maldade nenhuma!”
Dúvidas e críticas que permeiam a vida das meninas! Já perceberam que sobre os meninos ouve-se menos a respeito de erotização? Não que não exista, existe sim, porém, por uma questão cultural, a cobrança é maior em relação às meninas, as quais têm uma obrigação maior em relação à sociedade, de crescer para cuidar da casa, casar e ter filhos. Embora tenha mudado muito, ainda se percebe esta tendência.
O problema é que acabou o tempo em que as crianças escolhiam bonecas comuns, como a Barbie ou Susi e/ou inocentes brincadeiras de rua como pega-pega, esconde-esconde; e até os programas preferidos na TV eram, no máximo, os desenhos animados. Foi-se o tempo em que as crianças eram realmente crianças. Hoje, a sensação é que não temos crianças, mas pequenos adultos que preferem programas tipo adultizados, com ídolos cada vez mais sensuais, com o mínimo de roupa e músicas que são verdadeiros contos eróticos, deixando qualquer adulto de boca aberta.
Qual o modelo de sexualidade que estas crianças terão no futuro? Ao assistir uma entrevista na TV com uma psicóloga infantil, a mesma postulou que estamos vivendo um momento muito crítico em relação à educação infantil, ou seja, a erotização precoce das crianças, das quais a mídia tem sido a grande educadora – ou deturpadora – quando o assunto é sexualidade. Criança é criança e deve se comportar como tal, e ao ver uma menina de 4, 5 anos com unha vermelha não é adequado achar bonito ou dizer “Que linda sua unha…quem pintou?”. Não há um ideal a seguir, porém, achar bonito não colabora para proteger essa criança dos malefícios que tal comentário possa vir a causar. Pode-se até comentar sobre a unha, no entanto, comentando que pode ser cedo para usar tal artefato.
A mesma sociedade que fica perplexa com os casos de abuso sexual, pedofilia e exploração sexual infantil, aplaude os programas, as novelas, as músicas e os artistas que valorizam a erotização de seus filhos, e mais, permitem que seus filhos tenham comportamentos aquém da idade correta da criança.
Um fenômeno, cada vez mais comum na sociedade, é a terceirização da educação dos filhos. Não é novidade nenhuma que muitos pais não conversam com seus filhos, sobretudo quando o assunto é sexualidade. Este papel é dos pais. Eles devem falar sobre estas coisas com seus filhos, porque quando a criança assistir na TV ou ouvir alguém falar sobre sexo, ela vai saber o que é certo, porque o pai e a mãe já explicaram. Então, ela não fica fantasiando nada sobre esse assunto.
Não podemos nos queixar da sociedade, controlar horário que os filhos usam facebook, internet, e dentro da nossa própria casa, incentivar atos contrários ao motivo de nossa preocupação. É para se pensar e refletir: “Estamos criando os filhos que queremos?” Ou: “Estamos dando condições a eles?”, “Como proibir corretamente o uso da internet, mas incentivar em casa, o uso de ferramentas que possam despertar o interesse de criminosos?”
Deve ficar claro que criança é criança e a justificativa para se negar as vontades de seu filho é: Você ainda é criança, não tem idade para usar isso, quando você tiver idade você pode usar o que você quiser, mas hoje não. Deve-se enfatizar que o problema não é propriamente pintar uma unha e sim, o que isto pode suscitar na sociedade e nos tempos em que vivemos. Há tempo para tudo, há fase para tudo, e atropelar etapas pode ser no mínimo danoso a longo prazo. E qual o perigo então? Perigo de que nossos filhos tenham uma visão deturpada da sexualidade, perigo de que quando ainda pequenos sejam vistos com olhares ameaçadores por aqueles que podem vir a prejudicá-los. E ainda, perigo de que nossos filhos ao passarem por toda uma erotização precoce se percam na hora em que realmente estiverem na idade para tal, e por isso virem a apresentar dificuldades no campo da sexualidade.
Na dúvida procure um profissional para lhe auxiliar.