Como processo complexo que acompanha o indivíduo ao longo de toda a vida, a ação educativa está vinculada a inúmeros agentes, múltiplas experiências e incontáveis fontes de aprendizagem, a maioria dos quais de difícil controle. A vida é essencialmente educativa, mas os rumos e os produtos de “sua pedagogia”, particularizados nas histórias de cada um de nós, são absolutamente imprevisíveis. Parte integrante do processo educativo, mas configurando-se como iniciativa diferenciada, a escolarização parece ser a alternativa única e insubstituível de conduzir a formação humana sob modos de intervenção planejados à luz de princípios éticos, culturais, cognitivos, sociais e políticos. Constitui-se uma oportunidade privilegiada, tendo em vista o período de interferência (infância e adolescência), a duração (pelo menos 8 anos de Ensino Fundamental e a sistemática de trabalho. Ao longo da história, a escola consagrou-se como instituição especializada em ensinar, sem contudo resolver a polêmica relação entre a aprendizagem e o processo educativo A realidade de nossas escolas hoje deixa ao século XXI o desafio de colocar o esforço pedagógico (o ensino) a serviço das metas educacionais, visando o equilíbrio entre o “ser saber” e o “saber ser”, isto é, entre o sujeito cognoscente e o sujeito social, consciente, equilibrado e responsável. A revisão dos projetos pedagógicos e as reformas curriculares já em andamento em muitos países legitimam-se pela busca de uma nova relação entre homem e conhecimento para democratizar o saber e fazer dele uma bússola capaz de nortear a formação de posturas críticas e as tomadas de decisão. Do ponto de vista teórico, os educadores não podem desconsiderar a contribuição de importantes pesquisadores, como é o caso de Piaget, para quem a aprendizagem depende de um processo pessoal e ativo de constante abertura para o novo em um contexto de significados (razão pela qual o ensino não se encerra em si mesmo). Além dele, a abordagem interacionista da psicologia russa prestou enorme contribuição às concepções de intervenção escolar pela ênfase no poder das mediações entre o sujeito e o objeto de conhecimento, mecanismo essencial para o descobrimento do mundo e construção de si mesmo. Do ponto de vista prático, há um consenso praticamente geral de que a escola não mais pode se fechar aos dramas de nossa realidade: a devastação ambiental, a intolerância, o racismo, as drogas, a violência, a incidência de doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez precoce… Ao ingressar na escola e antes mesmo de poder enfrentar a peculiar situação de ensino-aprendizagem que caracteriza a instituição, a criança depara-se com um ambiente único e até então inesperado, transformador do sujeito e da sua ótica sobre o mundo. A passagem do meio familiar, geralmente afetivo e protetor, ao ambiente institucionalizado da escola implica na descoberta de uma estrutura social que, em maior ou menor grau, impõe ao aluno algumas exigências: a ampliação da convivência social; a convivência, concorrência e competição entre iguais (os colegas); a reconstituição do eu no grupo, reafirmando seus limites e potencialidades; novos vínculos de relacionamento entre adultos e crianças (em relação à vida familiar); a compreensão dos diferentes papéis sociais e suas implicações na regulação de tarefas, no delineamento de direitos e deveres e nas relações pessoais; a hierarquia de pessoal e das “leis” de força e poder; a cobrança mais ou menos implícita sobre os alunos em diretas ou indiretas exigências de performance, desempenho e comportamento; o funcionamento regrado do sistema escolar: normas, horários, divisão de ambientes, limites instituídos, exigências de material, vestuário, etc.; a integração do ritmo individual à dinâmica peculiar da instituição na sucessão de atividades, negociações, exigências e conflitos Em meio a isso tudo, ponto crucial são os vínculos de nossas crianças. Há uma diferença entre os vínculos familiares, e os vínculos escolares, com professores e colegas. No entanto, a formação do vínculo na escola é de fundamental importância. É devido a bons vínculos que a criança se motiva a estudar, a ir para a escola e a se empenhar nesta tarefa de estudar. Deste modo, as referências que a criança tem são fundamentais, e mantê-las é salutar.
Fonte: Silvia Colello