Em reportagem da revista Veja, de 10 de setembro de 2014, enfatizou-se uma nova terapia para os dependentes de crack. É uma terapia baseada na recompensa financeira da abstinência, apresentando resultados animadores no tratamento dos dependentes dessa droga devastadora. Pontuou-se que um milhão de brasileiros são usuários de crack, e metade deles esta com a vida devastada pela droga. A outra metade é composta, em grande parte, de pessoas que em breve, terão sucumbido ao vício. Pouquíssimos conseguem interromper o uso. Não existe droga mais refratária à intervenção médica do que o crack. Uma técnica baseada na recompensa financeira da abstinência tem apresentado resultados animadores. O método conhecido no jargão da psicologia como de incentivos motivacionais, acaba de ser testado em pacientes brasileiros. Conduzido pelos pesquisadores da Unifesp, o trabalho ambulatorial envolveu 65 dependentes de crack. A maioria consumia a droga pelo menos cinco vezes por semana. Os voluntários foram divididos em dois grupos. O primeiro foi submetido apenas ao tratamento padrão, feito com remédios e apoio psicológico para controlar a síndrome de abstinência e as doenças psiquiátricas associadas ao uso da droga, como ansiedade e depressão. O segundo grupo, além dos cuidados tradicionais (medicamento e psicoterapia), foi submetido à técnica de incentivos motivacionais. Três vezes por semana, os dependentes passavam por exames de urina. Em caso de resultado negativo para a presença do crack, eles recebiam um cupom a ser trocado por roupas, créditos para o celular e até comida em lojas previamente determinadas pelos pesquisadores. O valor do cupom subia conforme aumentava o tempo em que o paciente se mantivesse longe do vício. Ao longo dos três meses de estudo, os voluntários receberam até 1000 reais. No grupo dos incentivos emocionais, 20% dos voluntários mantiveram-se longe da droga por doze semanas. Entre os pacientes tratados com psicoterapia e medicamentos, ninguém chegou às doze semanas. A maioria (80%) conseguiu manter-se abstinente por, no máximo, duas semanas. Uma taxa de sucesso de 20% a princípio, pode parecer pequena. Mas é extraordinária em se tratando de usuários de crack. O índice de abstinência a longo prazo também foi altíssimo, chegando a 70%, o dobro do verificado com as terapias tradicionais. A chave para o sucesso da terapia à base de incentivos motivacionais está no fato de que o dependente é tratado como criança. O cérebro do usuário da droga tem, características infantis. No processo natural de desenvolvimento a última região cerebral a desenvolver é a área associada a razão e a tomada de decisão. É uma das áreas mais afetadas pela droga. O usuário perde a capacidade de discernimento e a capacidade de planejamento. Sem freio, ele não consegue pensar nos riscos a que se submete ao dar mais uma tragada. O que importa é o prazer ligeiro. É nessa dinâmica do imediatismo que a terapia dos incentivos emocionais se encaixa. A lógica é substituir o prazer imediato da droga, por outro tipo de prazer instantâneo. Nos Estados Unidos, a técnica de incentivos emocionais já e utilizada em 30% dos dependentes químicos em tratamento. O método é pago pelas seguradoras de saúde. Nos consultórios particulares, é comum o paciente entregar ao médico um cheque caução no inicio do tratamento . O valor é devolvido paulatinamente, conforme os resultados dos exames de urina comprovem a abstinência. A prática de controle adotada revela-se como uma extraordinária janela de esperança contra a sombra do crack. Ao ler este texto, percebe-se o quanto as premissas da TCC são utilizadas, mesmo sem saber que está sendo usada. Recompensar a falta do uso de crack, com um prêmio nada mais é do que reforçar a falta do uso. Deste modo, diminui-se o uso para aumentar a ocorrência do prêmio. Se ao invés de reforçarmos um bom comportamento, punirmos um ruim, o autocontrole aparece. Ou seja, se a cada uso da droga, se falar para a pessoa sobre o quanto é ruim, que faz mal, ela o fará de igual forma, mesmo que escondido. Por outro lado, se você elogiá-la quando faz o correto, o resultado além de ser mais positivo, será mais duradouro. Podemos questionar o uso da recompensa financeira, porém, o comportamento é aprendido, e desta maneira, após se adquirir o hábito, e ver a consequência do bom comportamento, este permanece. Permanecerá não só pelo prêmio, e sim, por outros fatores, tais como bons relacionamentos que fará, elogios e conquistas. Na dúvida procure um Psicoterapeuta Cognitivo-Comportamental.