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Para o psiquiatra americano Daniel Siegel, o comportamento rebelde, impulsivo e conflituoso da juventude é resultado da remodelação por que o cérebro passa nessa fase.

Em 1818, o poeta inglês John Keats definiu a adolescência como uma época em que “a alma está fermentando, a personalidade indecisa, a vida incerta”. Quase dois séculos depois, a ciência descobriu que esse período de confusão está longe de ser fruto da alma: é resultado de transformações cerebrais profundas. O psiquiatra americano Daniel Siegel, professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e diretor do centro de pesquisas Mindful Awareness, é incisivo ao afirmar que o comportamento adolescente não é um efeito da emergência da personalidade ou da invasão hormonal do período. Para ele, que estuda as transformações da mente adolescente há pouco mais de duas décadas, a remodelação por que o cérebro passa entre os doze e os 24 anos é a principal responsável pelas atitudes impulsivas, rebeldes ou depressivas dos adolescentes. Queda na produção dos neurônios ou o aumento da atividade do circuito de recompensa seriam a explicação para os conflitos e questionamentos da fase. Segundo ele, precisa-se mudar a maneira de enxergar a adolescência. Ela não é um período de loucura ou imaturidade. É a essência de quem deveremos ser, do que somos capazes e do que precisamos como indivíduos.

Muitas pessoas acreditam que a adolescência termina antes, mas sabemos agora, com base em publicações neurocientíficas recentes, que há uma remodelação do cérebro que vai até a metade da terceira década de vida. Esse processo inclui a ativação de diversos circuitos e sistemas cerebrais e está relacionado ao comportamento que conhecemos como típico da adolescência.

É verdade que os hormônios estão em ebulição na puberdade. Nos garotos, por exemplo, a elevação da testosterona os torna mais agressivos. No entanto, o segredo para explicar o comportamento adolescente é outro: toda essa flutuação hormonal provoca mudanças no circuito cerebral de recompensas.

Durante a adolescência há um crescimento do circuito cerebral que utiliza a dopamina, um neurotransmissor que nos faz buscar prazer e recompensa. Ele começa no início da adolescência e chega ao seu auge na metade dela, levando os adolescentes a buscar emoções e sensações intensas. Esse aumento natural da dopamina pode dar aos adolescentes um poderoso sentimento de estarem vivos quando estão envolvidos em atividades novas e estimulantes. E também levá-los a focar apenas nas sensações positivas, não dando valor aos riscos e perigos.

Além disso, a maior quantidade desse neurotransmissor leva à tendência maior aos vícios: todos os comportamentos e substâncias viciantes incluem a produção de dopamina. Como os adolescentes estão propensos a novas experiências, eles também respondem com uma carga maior de dopamina, o que pode levar a um forte círculo vicioso. Um terceiro comportamento gerado pela remodelação cerebral é a super-racionalidade. Ela é a capacidade de pensar apenas em termos literais, concretos, sem olhar para o contexto. Com esse tipo de pensamento, o jovem pode ser levado a considerar apenas os benefícios de suas ações e não pensar no lado negativo

Todas essas atitudes geradas pelas mudanças cerebrais – impulsividade, rebeldia, intensidade – são necessárias para que os jovens saiam de seu círculo familiar e conheçam o mundo. Dão a coragem necessária para mudar, partir e inspiram os adolescentes a procurar novidades. Afinal, a casa é confortável e previsível, enquanto o mundo está cheio de armadilhas e surpresas. Há uma visão evolutiva que afirma que, se os jovens não saíssem de casa e deixassem seu grupo, nossa espécie teria muita chance de se reproduzir entre si, o que seria geneticamente prejudicial às próximas gerações. Nossa sobrevivência individual e social depende dessa coragem dos mais novos.

Interessante estas colocações no sentido de que, muito se fala sobre a adolescência e suas mudanças, como se o adolescente escolhesse os comportamentos de ficar trancado no quarto, de agir sem pensar em suas consequências e de sempre querer estar certo. Além de a psicologia chamar essa etapa de “síndrome normal da adolescência” podemos pensar também que há grandes mudanças cerebrais ocorrendo, que também podem estar associadas a toda essa transformação.

Vale refletir sobre mais essa possibilidade de compreensão.

Fonte: veja.abril.com.br/ciencia/o-cerebroadolescente/

 


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